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Os Convencidos da Vida

Os Convencidos da Vida

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Os Convencidos da Vida (Sun ergo cogito) – Breve ensaio sobre a insustentável chateza de vidas sem pensar”

 

 

Bio-fácio

 - De como no ano da (des)graça de mil novecentos e noventa e quatro, vigésimo sexto ano da era abrilina, se achava periclitante a nossa democracia apresentando-se a longo prazo com ares de novo futuro pouco risonho; a origem de tal pessimismo devia-se ao facto de estarem a agravar-se as nossas dívidas públicas, sobretudo, pelas onerosas dificuldades financeiras; esta situação em parte devido a certas ideias e valores, nomeadamente, os de natureza sebastiânica tradicional portuguesa do “deixa correr” poderia, eventualmente, acarretar descontentamento popular e, consequentemente, mais dia menos dia, provocar graves e declarados conflitos sociais.

            Foi então que Joaquim de Miranda em seu alto critério servido pelo seu conhecimento do ambiente ético-social, maduramente pensado e justificado em sua consciência, e arrostando com trabalhos duros e muita coragem decidiu, após passar noites sem sono, voltar a animar socialmente o seu antigo “silogeu” o Paço (in-Comentário - O outro lado da coisa - biofácio) que doara, em tempos, à Câmara Municipal; o Salão Nobre e outros espaços dignos funcionais ficaram, por legado perpétuo, sempre à sua disposição do homem pensador e defensor da democracia em prol do município e, “quiçá”, de todo o País, sempre que de si carecessem; assim decidiu com muitos dos seus pares, amigos, antigos colegas e até ex-alunos, criar uma espécie de universidade sénior chamada Academia Cartésia, uma modestíssima homenagem a Descartes, à qual passou a ter acesso “ad hoc” quem tivesse a habitual disponibilidade da aposentadoria e vontade de ensinar/aprender até morrer porque saber, como diz o povo, não ocupa espaço; a inscrição na Academia era livre sem atender ao nível académico ou meio social; neste sentido não havia à entrada nenhum aviso do seguinte teor: “reservado o direito de admissão” como é prática nos clubes; a Academia era mais destinada a seniores, homens e mulheres a maioria cépticos por natureza devido ao jus da idade; havia a disposição rigorosa de que para a sua docência só poderiam admitir-se professores graciosos, isto é, voluntários sem outra recompensa que não fosse pretender alcançar o êxito junto dos discentes aqui tidos, por comodidade, por alunos sendo, plenamente, aceites por estes; embora não fosse fácil de alcançar a disposição benévola de serem bem acatados porque em todas as sociedades, sobretudo nas mais pequenas, há sempre gente “que sabe que sabe”, isto é, sabe tudo mais que os outros e, por isso, pode atrapalhar tanto a disciplina como a marcha dos conhecimentos; estes deviam ser, em cada matéria e em cada disciplina curricular, tão encadeados como são as cadeias alimentares de todos os seres vivos para poderem subsistir; se nestas cadeias houver qualquer hiato, este pode levar à extinção de uma espécie ou no caso das aulas, levar à perda de interesse por parte daqueles que não seguissem as aulas com atenção e eficiência com as suas tomadas de notas. Os alunos também podiam fazer as comunicações que programassem com o reitor para que em seu critério as aceitasse o que, facilmente, se descobre pelo seu teor e são oportunismo!

            Joaquim de Miranda bem sabia que a escola é o espelho da sociedade e havia que tudo prevenir antes que ter de ser remediado dado que há gente que vive só para acotovelar os seus semelhantes até dentro dos grupos escolares e o que resta da indisciplina é a descriminação dos mais fracos forçada pelos poderosos ou atrevidos; mas na Academia eram todos iguais perante a autoridade do reitor que não era, porque só não quis ser, Joaquim de Miranda; o reitor era um colega seu já jubilado, também, mas mais novo a quem Joaquim de Miranda reconhecia autenticidade mental e psíquica, por ser mais novo, ter bom feitio e que mostrava ser pessoa desempenada de ideias; pessoa independente e acessível para moderar quem defendesse ideias antigas ou modernas assim chamadas porque os novos reagem contra as ideias velhas e os velhos, normalmente, reagem contra as ideias novas; estas lutas estéreis dentro da Academia eram inúteis porque nunca se chegaria a uma ideia nova a “ideia-síntese” que é a mais-valia das lutas dialécticas entre a tese e a antítese; generoso processo este, indispensável para, continuamente, gerar o progresso de todo o movimento vital do planeta.

O professor Paracleto era o sobrenome do reitor alcunha que pegou na família a que fazia jus pelo seu trabalho com os alunos e, até, com professores o que não podia estar mais de acordo com o conteúdo significativo daquele termo erudito, como erudito era seu portador; em qualquer dicionário se poderá ver hoje o significado de paracleto.

A docência/vivência das disciplinas disponíveis era semelhante à das universidades seniores, isto é, nas aulas eram lançados alguns temas sobre cultura, de preferência actuais e geralmente polémicos, supletivos para a cultura média dos frequentadores da Academia; eram mais virados para as ciências humanas como História, Psicologia, línguas e seus derivados, livros, jornais, etc., tendo, todas por base de preferência algumas partes da Filosofia (como a Lógica, a Teodiceia, a Sociologia, etc.) da qual todas as outras ciências através dos tempos se foram emancipando; a primeira ciência a emancipar-se da Filosofia foi a Matemática ainda no tempo dos gregos; mais tarde, a Física emancipou-se com Galileu; a Química, com Lavoisier, a Sociologia, com Durkeim, com Claud Bernard, a Biologia etc., etc.,

A docência da Filosofia não tinha um “curriculum” especial de itens previamente seleccionados até porque os assuntos semanais poderiam numa aula provocar longas disputas metafísicas bastando, por exemplo, que se tocasse num tema religioso ou gnoseológico, etc.; foi neste contexto que Joaquim de Miranda resolveu propor ao professor Paracleto um horário às seis da manhã (antigo horário de disciplina da hora prima) diferente para as aulas de Filosofia por ser um conhecimento muito abrangente aulas a que Joaquim, em princípio não assistia por sofrer do “síndrome de Morfeu” e, por sistema, costumava acordar tarde tendo ficado, por isso, com o horário das 11H a reger a etimologia latina do Português; não vem para o caso o resumo destas suas aulas por serem, normalmente, um pouco vulgares nem pela mesma razão as dos outros professores, mas ficou decidido que as aulas do turno de Filosofia regidas pelo Professor Paracleto seriam reservadas para nelas se poderem tratar todos os assuntos a desenvolver por todos os seus ângulos possíveis; talvez seja oportuno, desde já, esclarecer que algumas contradições ou repetições que possam surgir no tratamento de temas iguais ou semelhantes se devem ao facto de serem tratados por pessoas diferentes de reconhecimento mérito que o reitor convidava para dar a colaboração em algumas das suas aulas; os alunos tinham toda a liberdade de durante a frequência das aulas nelas intervirem no tratamento dos temas, à sua maneira; mas não tinham liberdade, absolutamente nenhuma, sob juramento íntimo de revelar o que lá dentro se passava para a garantia de liberdade para os que quisessem argumentar argumentassem sem restrições, mesmo de forma irónica ou maliciosamente construtiva! (ou mesmo estúpida, se involuntária e aproveitável); porque, dizia o reitor, as ideias enquanto ideias não são responsáveis pelas interpretações que o homem possa fazer delas.

O próprio Joaquim de Miranda, normalmente, ficava de fora sem saber o que se passava, dia a dia, em cada aula de Filosofia cuja Sala tinha sobre a porta de entrada o seguinte dístico: “Ínxula autêntica” que à primeira vista parecia estranho que tão estranho não era assim muito para os que estudaram a História dos Descobrimentos Portugueses. Era sabido que os primeiros instrumentos de navegação marítima foram os portulanos uns mapas muito grosseiros que tinham desenhados os acidentes da costa, cabos, baias, enseadas, promontórios, ilhas, etc., para se navegar à vista; porém, no mar adentro no Atlântico, também, havia mapas rudes onde se marcavam ilhas algumas das quais até podiam desaparecer devido a serem de origem vulcânica ou simplesmente eram fantasiosas; para distinguir as ilhas verdadeiras assinalavam-nas no mapa com a perífrase “ínxulas autênticas”; estas eram as ilhas verdadeiras. Também naquela Sala do Dr. Paracleto o que se dizia como sendo verdadeiro era-o para as pessoas diferentes poderem reflectir de forma livre sobre todos os assuntos possíveis; os temas em reflexão desde a primeira aula ficavam reservados para os intervenientes da sala, mas são agora acessíveis para os nossos leitores passados mais de dez anos; tempo suficiente para a prescrição de eventuais “crimes de opinião”, isto é, para prevenir contra aqueles que se julgam os únicos que têm direito a ter opinião e que só admitem, às vezes, por mera condescendência, que outros também seus semelhantes, animais racionais que Deus criou, passem a pensar por sua cabeça; alguns alunos e mesmo o Professor Paracleto ainda serão vivos hoje e ainda pensam que pensar não é defeito; o pensar ideias é como uma nascente cujas águas cristalinas brotam duma fonte; como as diferentes qualidades das águas destas nascentes dependem do lugar e do terreno onde estão implantadas e de acordo com a lei dos parâmetros estabelecidos pelos homens as ideias, também se apresentam diferentes; e por isso, umas também podem definir-se “próprias para consumo” e outras “impróprias para consumo”; estas, porém, ainda podem ter utilidade para fins de despertar instituições em sociedades sonolentas ou com aquelas regar as cearas verdes do pão!

Algumas comunicações por escrito que serviam de base às aulas do Dr. Paracleto cujos comentários podiam ocupar vários dias lectivos foram as únicas aproveitadas para publicação; aliás, Joaquim de Miranda assumiu a publicação apenas daquelas aulas que achou, em seu critério, mais interessantes para provar que a polémica, quando estabelecida entre pessoas honestas e que pretendam, apenas, explorar sem pré-juízos a sua visão do mundo e da vida não prejudicam ninguém porque não obrigam ninguém!

 


 

Os indivíduos inscritos nas aulas de Filosofia desta sala tão especial fossem inteligentes, sábios, honestos ou cépticos nunca eram designados pelo seu nome, mas pelo seu número de pauta; assim se evitava que os indivíduos com nomes menos sonantes se inibissem de alguma forma de estar menos à vontade perante outros colegas com nomes menos “terra à terra”; o receio de se sentirem insignificantes desaparecia, porquanto na aula todos tinham o direito de exprimir-se sem vergonha do mundo; por outro lado a escapar cá para fora qualquer inconfidência acerca das posições dos vários intervenientes, os seus nomes não eram identificados e os seus números fora da sala de aula diziam quase nada de rigoroso sobre alguém.

Havia que ter em atenção que não são, normalmente, as grandes ofensas que ofendem mais e um maior número de pessoas; uma palavra descontextualizada, um pensamento insólito, uma pretensa insinuação, podiam ser tomados como motivos de ofensa por que não se esperava isso de ninguém, mas era um risco a correr por quem se dispõe a pensar!

Por uma questão deontológica o sumário da matéria era, normalmente, escrito no fim da aula e haveria lugar a marcação de faltas porque, como se disse ao referir os hiatos de lições, só uma rigorosa presença contínua permitia avançar com as matérias que, entre si, tivessem forte ligação, sem o perigo de descontextualização!

Quando, por hipótese, a matéria fosse mais melindrosa, mais polémica, desde que interessante, os textos poderiam levar anotações, após o sumário para esclarecimentos acerca de algumas intervenções dos alunos às quais em certos casos o editor resolveu dar uma “maneirada”, como dizem os brasileiros, para se tornarem lógicas e melhoradas literariamente!

Foi esse o sentido da publicação de temas que ainda hoje podem ser objectos do pensamento de um sábio ou de um santo e até do “ homo vulgaris“.

O simples exercício de pensar é o melhor impulso para ajudar as pessoas “a saltarem fora das vedações” onde quer que vivam arrebanhadas por forças económicas, sociais ou culturais às quais lhes interessam do rebanho apenas as crias, o leite e… pele; estes são os que não acreditam na justiça social e na imanente divina porque “o homem é o lobo do homem”!

É urgente nunca deixar de pensar!

 


 

O Instituto do “Habeas Corpus” foi consagrado na Magna Casta (século XIII D.C.) para evitar a continuação de uma prática desumana que era fazer desaparecer sem ou com julgamento o corpo dos condenados; com esta instituição cada pessoa tinha o direito básico de que se prestasse contas do seu corpo à sociedade onde vivesse. Quer dizer, os poderosos passaram a ter de se sujeitar à magna realidade de que o homem é um ser integral e, por isso, tem dignidade pessoal e social que não lhe pode ser negada.

Também nem os ricos, nem os poderosos, nem os religiosos, nem os intelectuais, nem os ditadores, ninguém pode cercear a capacidade de pensarmos os nossos pensamentos; por isso, o Dr. Joaquim Miranda constituiu para as aulas no seu Paço a figura de “Habeas Intellectus” para garantir total liberdade nas comunicações da Academia, porque aceitava que pensar e manifestar o que se pensa não pode ser coarctado porque o pensamento é livre; porém, das suas eventuais consequências aleatórias deve o homem ser responsável. Mas o pensamento como pura opinião não pode ser sancionado de maneira nenhuma, por ninguém porque nem Deus o quereria fazer e, muito menos, permiti-lo a qualquer homem sábio, santo ou chucro; mas pode o demónio na pele dum puritano religioso assumadíço ou político lampeiro virar censor e criar os seus “acordantes surrateiros” para nos meterem medo e, quiçá, na cova!

            Na Academia, pensava-se sem proselitismo, mas apenas se pretendia explorar os limites do pensamento aculturado; pensar era transmitir a experiência pessoal que os indivíduos presentes “respiram” sem culpa; são obrigados a “respirar” este nosso ambiente actual, mas não outro ambiente sócio-cultural de tempos passados e lugares diferentes!

Assim não se escandalizava ninguém, nem se procurava tirar desforço ou tentar criar animosidade ou outra forma de coação social, moral ou intelectual sobre as pessoas que se apresentavam na Academia para fazer auto-análises intelectuais das suas mentes sem finalidades ocultas ou objectivos tendenciosos ou por qualquer outra questão; aliás, todos os presentes na sala do Dr. Paracleto aceitaram que assim fosse; não será mau repetir agora que passados anos ao lerem-se os seus trabalhos ninguém vai escandalizar-se na medida em que forem bem compreendidos pelos seus leitores actuais.

Pensar não ofende; sancionar o pensamento tem sido, infelizmente uma mácula de desumanidade de políticos, e não só, que urge erradicar do “cardápio“ da estupidez humana! Assim não teria acontecido nunca se, por natureza, o Pensamento se subordinasse ao postulado “aceitar, ou não aceitar, livremente, o poder da Fé”; proceder sempre de “boa fé”; repudiar liminarmente o uso consciente da “má fé”. Mais que postulado estas maneiras de proceder deviam ser um axioma universal para todos os humanos!

Entretanto Joaquim de Miranda não perde ainda hoje uma boa oportunidade de usar a sua inteligência para tirar todo o prazer do exercício do Pensar, de preferência com os seus amigos e às vezes usar emprestada a inteligência dos seus Mestres!

 


 

Não foi fácil encontrar professores disponíveis para leccionar na Academia Cartésia; não, porque não houvesse muitos, mas seleccionáveis havia poucos. E o mais importante era arranjar um reitor que coordenasse os restantes professores mais que reger as lições do “curriculum”; Joaquim de Miranda tinha uma experiência muito dura com professores devido a um incidente decepcionante em jovem enquanto estudante de Filosofia no seu Liceu da Província.

            A sua professora Drª Eudóxia era aquele tipo de professora dogmática que regia ao tempo, e a seu modo, uma disciplina fundamental para a formação intelectual de jovens que se destinavam ao Ensino Superior. Era considerada pelos alunos uma professora de Filosofia “assim-assim”, nem era péssima demais, nem de menos, que tinha “manhas de peripatética” nas suas aulas; não parava a perorar “filosofia feita do compêndio”, umas vezes dos lados das carteiras, outras atrás outras à frente; não parava nunca, nem para tirar dúvidas. Daí o seu “petit-nom” Corropio, Eudóxia Corropio que só ela não tinha hipótese de descobrir, tal era o receio da sua pernóstica postura a leccionar! Mas era íntima do reitor que se encarregara de a seleccionar para o Liceu com outros tantos professores com ele “arraçados”. Aluno pobre orgulhoso (que o Liceu não era para pobres; havia para eles, a Escola Técnica Profissional), aluno que lhe parecesse que “pensava demais” ou aluno filho de político errado, mandava-os para as aulas da Drª Eudóxia que esta se encarregava de “lhes limpar o sarampo” e corrê-los da sua escola por si assumida como “a sagrada oficina das almas”.

Todos os alunos eram avisados das “qualidades pedagógicas” deste reitor quando, pela primeira vez, assomavam ao recreio, no intervalo das aulas. O jardineiro, um velhote leptossómico, muito simpático de nome e alcunha José Cochicho porque cochichando avisava todos os alunos que calcar a relva era um crime de “lesa-pedagogia” e que o reitor, para ele, era difícil de aturar; às vezes, na ressaca de uma chamada à Reitoria começava a desfiar conselhos aos alunos para poderem sair dali ilesos com o então 7º ano feito. E estes chegavam à conclusão que trabalhador, professor ou empregado, que tivesse sido seleccionado pelo reitor o único que não era faccioso era o jardineiro. Havia nele mais filosofia em seu coração amigo que na “cachimónia” da Drª Eudóxia Corropio.

Num dia frio de Fevereiro, no dia da Senhora das Candeias ou S. Braz, talvez de cujos, a professora era e ninguém tinha nada com isso fervorosa fiel devido ao seu excesso de zelo pelo “Sagrado” que há em tudo que existe, “desfecha” esta gloriosa perífrase na cabeça dos alunos, simultaneamente, transidos de frio e do receio do que ai viria!

- Se Platão e Aristóteles ainda hoje fossem vivos poderiam muito bem santos; na verdade, a filosofia do primeiro foi “cristianizada” por S. Agostinho (séc. IV D.C) e a do segundo foi “cristianizada” por S. Tomás de Aquino (séc. XIII D.C)

- Mas essa simples hipótese é um absurdo, disse-lhe sem pestanejar nem pensar nas consequências, o aluno Joaquim de Miranda.

- Absurdo é a sua falta de respeito, Rua! E limpe da sua cabecinha muitas “teias de aranha” que a mim não me engana! E digo-lhe que são desrespeitosas e que já estou a “ficar cheia”! Com as suas ideias avançadas, não, não vai longe! Vai ver!

O aluno levantou-se da carteira respeitosamente e pretendeu esclarecer a Senhora Professora que sem milagres não há santos; a seguir sentou-se, porque a “gíria canina”, por certo, não seria com ele. Por muito menos, anos mais tarde já professor este mesmo aluno foi parar às Costas de África!

Por tal sinal, Joaquim de Miranda nunca convidaria para a Academia, nem a Dr.ª Eudóxia, nem qualquer professor com tal jaez pessoa!

            E começou quando professor a longa cruzada de levar os seus discípulos a pensar por si próprios e a aceitar que todos os homens pensam o que quiserem, enquanto seres pensantes, porque o que vemos, o que ouvimos, o que lemos, o que escrevemos, o que criticamos, não nos permite descurar o constante exercício de pensar, livremente, com escrupuloso alheamento ou respeito pelas ideias alheias!